quinta-feira, janeiro 12, 2006

Na vitrine

Cheguei, mais uma vez, a uma das duas alturas do mês em que passo os dias em casa. Não nesta Casa, mas na casa onde vivo fisicamente. Por estes dias, passo as horas aqui sentado, nesta secretária, tendo como paisagem um mamarracho desocupado há mais anos do que aqueles que eu vi.
Mas se dantes tinha como companhia o trânsito, as pessoas, o movimento normal desta terra de sonho e de futuro, as coisas mudaram de figura. O mamarracho está, pela segunda ou terceira vez no espaço de um ano, em recuperação. Tenho agora como companhia nestas longas horas, seis simpáticos trabalhadores da construção civil. E que gosto dá vê-los ali em frente. Vê-los a almoçar a olhar para o meu prédio. Vê-los a mudar as janelas, enquanto olham para o meu prédio. Vê-los na pausa das necessidades a que todos nós nos dedicamos eventualmente... sempre, claro está, a olhar para o meu prédio.
No outro dia fiz uma experiência. Levantei-me desta secretária, dirigi-me à porta, atravessei o corredor, abri a janela de um dos salões. Olhos em mim. Pois bem. Fechei a janela, percorri o salão, atravessei o corredor, ali parei durante uns segundos, voltei a esta secretária. Os mesmos olhos em mim. Decidi continuar com o que estava a fazer. Passados momentos olhei. Os ditos olhos no alto do prédio, e depois em mim. Até que se decidiu a voltar ao trabalho.
Se estou a gostar da experiência? Não. Definitivamente, não. Antes ver o mamarracho abandonado, do que supôr que poderá um dia ser ocupado.