segunda-feira, setembro 26, 2005

Na minha casa de paredes caídas

Se não estamos com atenção, a dedicação dos outros passa-nos despercebida.
Vivemos a acreditar em grandes concepções teóricas sobre o verdadeiro sentido da vida e como o encontrar mais tarde ou mais cedo, esquecendo-nos de interiorizar cada momento, por vezes deixando fugir aqueles segundos em que nos é aberta uma porta. E não, não é uma porta definitiva, uma porta que nos guie por caminhos. Não! É uma porta que, ao invés de nos deixar entrar, permite a libertação de algo que só nós compreendemos.

No meio de uma conversa banal, as palavras "nunca me contaste a tua história" assim dispostas, organizadas, ganham feitio de chave, sem que a outra pessoa saiba. A porta da casa que em nós transportamos é aberta e algo forma um pensamento "o quê? a minha história?" De certeza que não é a minha história. É, sim, a história que eu estiver disposto a contar, que criar naquele momento. Mas não. A rapidez sincera com que aquelas palavras se conjugam leva realmente a acreditar que se espera pelo meu passado.

O meu passado acaba por não ser contado. Talvez no futuro, um dia. A frase consegue perturbar os alicerces e, antes que a casa desabe, fecha-se tudo, as luzes apagam-se, ficando só aberta a porta por onde entra agora uma brisa, acolhedora, reconfortante.