Duas faces da mesma moeda
Basta não viver dentro dos limites de uma qualquer trash-culture para se ter uma pequena noção das várias dualidades espalhadas por esse mundo fora. O chamado mundo Ocidental, a par do seu conceito máximo que é a globalização (económica, social, etc.), estão ao alcance apenas de alguns. Infelizmente, a morte de um não-Ocidental não tem o mesmo valor que a de um Ocidental.
A 8 de Outubro do ano passado, um terramoto devastou o norte do Paquistão. Por essa altura, os números apontavam para 18 mil mortos. As imagens não abriram telejornais, nem fizeram manchetes.
A 19 de Janeiro deste ano, os números apontam para 87 mil mortos. Metade dos quais crianças. Nestas situações, é hábito dos meios jornalísticos distinguir entre dois grupos: mulheres e crianças de um lado, homens de outro. Desta vez, o número diz respeito só e exclusivamente a crianças. Perto de 43500. Sem casa ficaram 3 milhões e meio. Muitos sem abrigo digno desse nome, a viverem debaixo de capas de plástico em zonas onde a temperatura facilmente desce abaixo dos zero graus.
As Nações Unidas dizem precisar de 550 milhões de dólares para manter o nível de ajuda que têm actualmente. Esse dinheiro ainda não foi disponibilizado. A NATO (a também nossa NATO), enviou 1000 homens (médicos, engenheiros, pilotos) para ajudar. A viagem de volta está marcada (já) para 1 de Fevereiro.
Sobre tudo isto, não se ouve uma única palavra neste país. Será porque no Paquistão, ao contrário do tsunami no sudoeste Asiático, não morreram americanos, portugueses, suecos? Será porque não há imagens da morte live-on-tape?
Por muito demagógico que possa parecer, é caso para perguntar se cortando tanta discussão sobre quem canta Grândola, não se poderia dar a conhecer o mundo não-Ocidental.
<< Home