"Momentos há em que suponho, seres um milagre criado só para mim", escrevi-te eu nestas paredes, enganando-me com a certeza que um dia me visitarias e me lerias e me compreenderias. Em tantos dias, foram poucas as vezes que cruzaste as portas que te abri, na esperança de perceberes a essência de quem sou. E mesmo assim, sentei-me durante tanto tempo entre estas paredes, mesmo no centro, acreditando que era aí que devia estar para que me visses logo que tivesses a coragem de entrar. Hoje questiono-me se alguma vez o fizeste. Incrível o poder de uma questão, poder que detenho, e que nunca aceitaste ou com o qual convives mal. Esperavas que abandonasse as questões, como se abandonasse a minha essência, e me deixasse levar para futuros incertos, aos quais me entreguei voluntariamente, mas que me consumiam pouco a pouco, me afastavam de mim próprio, me modificavam, seguindo uma mutação que em todos ocorre.
Hoje (teimo em escrever hoje, como se o pudesse dissociar dos ontens e dos amanhãs), já sinto o frio que entra por tantas portas abertas. Sinto-me tentado a fechá-las, uma a uma, para recuperar cá dentro tudo o que deixei sair. Mas não te quero deixar de fora. Será sempre tua a maior parede desta casa, cobrirei-a com o teu nome e com a nossa história.
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