quinta-feira, outubro 20, 2005

A Hora da Partida

Ontem à tarde nenhum de nós queria partir. Nenhum de nós queria voltar ao mundo real, onde não existe aquela mesa por onde se espalhou a nossa vida, o nosso riso, as nossas recordações.
Quando as portas se fecharam e a distância aumentava, lembrei-me de Sophia:

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

A Hora Da Partida, Sophia de Mello Breyner Andresen