terça-feira, fevereiro 19, 2008

Fim

Esta Casa vai, definitivamente, fechar portas. Mudar-me-ei para outro lado, mas por agora continuarei a escrever para mim...

sábado, janeiro 12, 2008

E através de todas a presenças, caminho para a única unicidade

Estendo a mão na esperança de te tocar na água onde é o meu reflexo, procurando a suavidade do sal e dos peixes. Em minha volta não são árvores, mais madeira, castanhos, verdes, pretos, que juntos alguma coisa e separados nada. À minha volta decomposição em células, em átomos, em essência de onde retiro a vida, aprendo e cresço. E sou eu que vivo, e que cresço e que aprendo, na busca da essência centralizadora da minha energia e que assim vou avançando por caminhos e reflexos.
Um dia que não esteja cá, quem fique e me chore, que me perceba a vida como a procura na decomposção das coisas da essência da minha unicidade.

sábado, dezembro 01, 2007

"Momentos há em que suponho, seres um milagre criado só para mim", escrevi-te eu nestas paredes, enganando-me com a certeza que um dia me visitarias e me lerias e me compreenderias. Em tantos dias, foram poucas as vezes que cruzaste as portas que te abri, na esperança de perceberes a essência de quem sou. E mesmo assim, sentei-me durante tanto tempo entre estas paredes, mesmo no centro, acreditando que era aí que devia estar para que me visses logo que tivesses a coragem de entrar. Hoje questiono-me se alguma vez o fizeste. Incrível o poder de uma questão, poder que detenho, e que nunca aceitaste ou com o qual convives mal. Esperavas que abandonasse as questões, como se abandonasse a minha essência, e me deixasse levar para futuros incertos, aos quais me entreguei voluntariamente, mas que me consumiam pouco a pouco, me afastavam de mim próprio, me modificavam, seguindo uma mutação que em todos ocorre.
Hoje (teimo em escrever hoje, como se o pudesse dissociar dos ontens e dos amanhãs), já sinto o frio que entra por tantas portas abertas. Sinto-me tentado a fechá-las, uma a uma, para recuperar cá dentro tudo o que deixei sair. Mas não te quero deixar de fora. Será sempre tua a maior parede desta casa, cobrirei-a com o teu nome e com a nossa história.
As pedras que piso, por estarem cobertas de uma areia grossa, gritam um som que me arrepia. Sigo acompanhado por dúvidas que desejo abandonar, enterrar debaixo da terra onde me encontro. Cada grão de areia é um sonho, um plano, que vou calcando cada vez mais.
Rodeiam o caminho, árvores enormes cujas folhas tapam a luz. Não sei onde estou. Esta sensação que não me larga, de incerteza, torna-me perdido numa estrada que só tem um sentido, contrário ao que eu dantes percorria. São sombras que estão a meu lado. Sombras do que pensei, do que senti, que se materializam e desmaterializam a cada respiração.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Não sei que idade tenho. Estou sentado na mesa da tua cozinha, onde tantas vezes brincámos os três (brincadeiras que deram histórias que nunca te cansaste de contar) e tu estás a meu lado. À nossa frente um caderno, daqueles que nunca mais vi, onde crianças como eu (ou crianças que tiveram a sorte que eu sempre soube ter) aprenderam a escrever. Dizes-me "começas à esquerda, assim, desenhas a primeira curva que toca na linha do meio, depois sobes até à segunda linha, desces até à direita, e voltas a fazer uma curva" enquanto os meus olhos seguem o lápis afiado por um canivete que desenha um "a" maiúsculo. A seguir é a minha vez, seguras-me na mão e lentamente lá me ajudas a desenhar a primeira letra. Sinto-me importante: ainda não estou na escola e já sei escrever. Devo-te isso a ti.
Não sei que idade tenho. Estamos numa manhã de Verão, na praia, a brincar junto às rochas. O meu irmão está dentro de água, a nadar, a mergulhar. Eu estou junto a ti, a tentar arrancar com as unhas lapas que teimam em se colar à pedra quando lhes toco. O meu avô está lá ao longe a arrancar mexilhões para almoçarmos. À nossa volta, poucas pessoas. Decido subir um pouco mais na rocha, para agarrar o caranguejo que subiu. Escorrego. Rasgo a pele, e o sangro. Mais uma visita ao posto médico (será uma de entre tantas, que me levaram mesmo a casa da enfermeira). Ainda hoje tenho marcas na pele. São marcas de uma infância feliz, livre, plena de Verão, praia, e amor. Devo-te isso a ti.
Não sei que idade tenho. Estou de volta a tua casa, depois do avô me ter ido buscar à escola. Achei estranho, afinal naquele ano eu já ía sozinho para casa. Sabia subir pelo Barreiro velho, passar a correr pelo jardim da velha que nós pensávamos ser maluca, cruzar o parque e chegar a casa. Naquele dia levaram-me para a tua sala. A minha outra avó tinha morrido. Ela dava-me chá e torradas, e comíamos numa cozinha antiga, completamente aberta para a sala. Aí ela chorava, ao meu lado, lembrando-se do meu outro avô que morreu tinha eu 3 anos. É dele a primeira recordação que tenho: a minha mãe, na cozinha, a dizer-me: "Leva o teu avô à porta" e eu lá fui, olhando para cima, vendo aquela figura da qual não tenho mais nenhuma recordação (por vezes, e não sou poucas as vezes - talvez não devesse pensar tanto no passado, temo que seja uma recordação construída por mim. Quero acreditar que não.) Naquele dia levaram-me para a tua sala. A minha outra avó tinha morrido. Lembro-me da minha mãe se sentar a meu lado, abraçar-me, e de tu chegares e fazeres o mesmo. Senti-me seguro. Devo-te isso a ti.
Tenho 24 anos. Terminei o curso. Telefono-te a dar a notícia. Sinto as lágrimas cairem-te pela cara. Tinhas em mim sonhos e expectativas e, naquele momento, quando te disse, senti que tinha estado à altura do que desejavas. Nesse dia, celebrámos, e as tuas lágrimas trouxeram-me um conforto inexplicável. Devo-te isso a ti.
Hoje, foges-me. Começas a não saber onde estás, onde estamos, o que se passa. Somos obrigados a despedir-nos lentamente, de uma maneira que ninguém sabe como lidar. Já fazes frases sem nexo, crente de que estás na posse de toda a lógica. Não sei o que te responder. Faço força para que as lágrimas não me caiam. Mas agora, sozinho, volto a chorar como não chorava há largos meses. Sou obrigado a despedir-me, aos poucos, de ti, e não quero. Não posso fazer nada, mas simplesmente não quero... e não sei...

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Sou o meu pior inimigo...

sábado, fevereiro 17, 2007

Em cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda minha vida
Não me apetece forçar sorrisos. Não me apetece forçar uma alegria que não tenho. Quero estar fechado no meu mundo, sozinho, lambendo as minhas feridas.
Desisti de lutar. A cada minuto só posso ser aquilo que sinto... não tenho forças para mais... ou talvez as tenha, mas não me apetece... simplesmente não me apetece, e não abdico desse direito!

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Saudade é...

É sentir que não estou completo, que não estou alinhado. Que cada minuto mais parece uma hora, e o dia parece um ano... E, no fim de cada dia, quando me deito e fecho os olhos, percebo que o dia não fez sentido e que não vivi, mas sobrevivi. Posso tê-lo feito com um sorriso (falso, porém existente), mas a realidade não foi mais do que uma luta pela sobrevivência...