Começo por lembrar que (infelizmente) não fui eu que escrevi aquele texto. Limitei-me a deixar aqui o link pela coincidência da ideia com o tempo que vivo.
De tudo o que Miguel Maduro escreveu, escolhi este excerto por achar que nele se rompe o preconceito existente para com o silêncio (sim W&A, levei tempo a aprender e, aqui, humildemente, me curvo perante este facto).
Várias vezes me tentaram explicar que o silêncio nem sempre é mau e eu, muito à minha maneira, recusei aceitar isso. Até que um dia percebi ser necessário uma grande capacidade de partilha e de confiança para ser suportável a permanência junto a outro ser humano em total silêncio. Percebi ser necessário um grau de intimidade raro, para conseguir fecharmo-nos em nós próprios e pensarmo-nos enquanto a respiração do outro deixa presente no nosso sub-consciente que não estamos sozinhos.
Do pensar a minha pessoa rapidamente usei o silêncio para pensar a outra pessoa. Porque o silêncio não serve só para nos descobrirmos, para nos conhecermos enquanto ser único. Serve também para receber os outros, seja num olhar, num gesto ou numa respiração. Serve também para compreender a receptividade que o outro tem por nós.
A curiosidade não se satisfaz só com palavras. Satisfaz-se com palavras, mas também com actos, com hesitações, pausas, interrupções.
Miguel Maduro diz, no fim do seu artigo, que "O silêncio pode ser mesmo o melhor instrumento da narração. (...) É uma pista deixada ao leitor." Ninguém se compreende totalmente, nem espera que o compreendam assim (todos nós precisamos dos nossos pedaços para poder gozar em silêncio). Mas o que todos queremos, mais tarde ou mais cedo acabamos mesmo por precisar, é que nos acompanhem de alguma forma, nem que para isso seja preciso deixar pistas, caminhos, construídos em silêncio. Num daqueles silêncios partilhados em que sabemos que o outro está curioso e que, ao nosso ritmo, nos quer conhecer.